Julgamento
Quarta feira, 1 de maio de 2019
E o tema do dia é: JULGAMENTO
Em inúmeras vezes em círculos cujo tema é CNV deparei-me com polêmica ao lidar com a palavra JULGAMENTO.
Cada vez que em momentos de celebrar acordos no grupo ou de trazer uma perspectiva de um olhar para o outro “sem julgamento”, frequentemente alguém ergue a voz e diz: “mas é impossível sem julgamento!”
Isso me levou nos últimos anos a uma busca real do que então é o julgamento? Como compreender esta palavra e o que ela carrega? Por que ela inflama tanto as pessoas quando propomos um olhar sem julgamento?
Nossa! São tantos pensamentos que me ocorrem quando me proponho a desvendar isso... que talvez seja melhor começar pelos fatos...
A quais situações da vida o julgamento está relacionado? Talvez pela minha 1ª formação acadêmica no Direito, seja impossível não começar pelo Tribunal, pelo juiz 👨⚖️, o que me leva relacionar o tema com Justiça e, em consequência, com igualdade de direitos e deveres.
Mas como a lógica que vive em mim sempre de mãos dadas com a dialética me leva a fazer, consulto o dicionário:
“Julgamento: 1. Ato ou efeito de julgar. 2. Sentença, decisão. 3. Apreciação, exame. 4. Audiência.
Julgar: 1. Decidir como juiz ou árbitro. 2. Sentenciar. 3. Crer por indícios, suposição, etc; supor, presumir, pressupor. 4. Formar opinião ou juízo crítico sobre; avaliar. 5. Considerar. 6. Julgar. 7. Sentenciar. 8. Ter-se por; considerar-se.”
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. “Mini Aurélio. O Dicionário da Língua Portuguesa.”.
Editora Positivo. 8ª ed., jul.2015.
Meu 1º sentimento ao ler isso no dicionário: alegria 😃. Minha necessidade: confirmação.
Ao descobrir que alguém reconhecido e renomado compartilha de um mesmo pensamento ou ideia que eu logo desperta-se em mim uma sensação de validação, de eu ser reconhecida ou me reconhecer.
De alguma forma, acabei de fazer um julgamento.
Mas sobre o que ou quem foi esse julgamento? Sobre o meu pensamento. Logo, de alguma forma, sobre mim mesma.
Na minha pesquisa sobre o assunto, o problema ocorre quando dirigimos esse julgamento ao outro. E talvez aí resida o germe da discussão sobre o assunto cada vez que ele é levantado...
Oh, Deus! Quem sou eu para julgar o outro? Deus? E quem é Deus?
Sei que neste momento pode parecer que o assunto desvirtuou, que a coisa foi longe demais ou está se tornando extremamente filosófica... meu filho de 16 anos, até 1 ano atrás, me diria isso...
Mas vamos então para a prática e para os que se interessarem em aprofundar na provocação filosófica acima, recomendo o filme: A cabana.
Na prática, na hora que nós, seres humanos, vemos o nosso pensamento confrontado por alguém, quando a coisa não vai na direção que a gente quer ou espera... sentimentos surgem de imediato. Interesses e necessidades normalmente bem escondidas e preservadas, pulam na nossa frente e normalmente agimos, de forma geral, defendendo nosso pensamento/opinião. E dependendo de para onde a situação evolui, nascem os conflitos e até chamamos o juiz ou... dialogamos.
Dialogar, para mim, torna imprescindível não julgar, mas respeitar a opinião do outro, suas capacidades e necessidades e aceitá-las em como são para este ser. É simplesmente ouvi-lo e também a mim.
Se por determinada razão, eu precisar decidir entre ele ou eu, julgarei, mas se pudermos ser nós, se puder ser eu e ele ser ele e chegarmos a um acordo... cheque mate! Onde ficou o julgamento?
Se não nos ouvimos, se não me dispo de mim, dos meus pensamentos e opiniões, por um momento, para compreender o outro não há conexão, não há diálogo, não há comunicação, não há paz.
Se depois deste exercício eu me voltar para mim e me ouvindo, aqui sim, decidir o que eu quero sobre isso e me posicionar sobre mim, posso dizer que julguei, afinal, se a palavra julgamento existe e é reconhecida de forma geral dentro de um mesmo contexto, a coisa em si existe. Nosso desafio: para honrá-la e torná-la boa, me parece que é aprender a usá-la no lugar certo.
Gleice Marote é sócia fundadora da Keea Yuna e idealizadora da Associação Keea Yuna de Desenvolvimento Humano, Organizacional e Social. Atua como coach de indivíduos, grupos e times; consultora em Desenvolvimento Organizacional e facilitadora em Programas de Desenvolvimento Humano envolvendo Comunicação Não Violenta e Antroposofia.
por Gleice Marote