O preenchimento de lacunas na comunicação e o que a CNV e uma visão ampliada de Ser Humano podem fazer por isso
Quarta feira, 08 de maio de 2019
O que nos faz compreender tão mal o outro e sermos tão mal compreendidos a ponto de não conseguirmos estabelecer um diálogo e prosseguirmos em busca do bem comum?
Esta pergunta me surgiu como tema para este post, inspirada pelo nosso leitor Fábio di Virgílio e por outros dois acontecimentos ocorridos na minha vida na última semana.
E para começar esse diálogo com você, que lê agora estes pensamentos e fatos da vida, pergunto: de onde vem a compreensão?
No último post, que falamos de julgamento, passamos (sem evidenciar) por 3 dimensões do ser humano que compõe a nossa alma: pensar, sentir e querer e como essas dimensões se encontram entre eu e o outro em uma relação.
Todo ser humano em sua constituição possui estas 3 dimensões, que podem estar mais ou menos saudáveis conforme as reconhecemos e trabalhamos com elas.
Sendo a comunicação um processo humano, e ressalto aqui o diálogo como a forma de comunicação que queremos tratar, é imprescindível que para que ela surta um efeito produtivo, tomemos consciência destas 3 dimensões atuantes em nós em cada situação relacional.
E isso tem a ver com os famosos “4 passos” estabelecidos como um caminho para a aplicação da Comunicação Não Violenta, quais sejam:
1. Observação
2. Sentimentos
3. Necessidades
4. Pedidos
Quando nos deparamos com o mundo exterior, podemos percebê-lo pelos nossos órgãos dos sentidos (que são 12 e não apenas 5) e essa observação, este deparar-se com o mundo, gera imediatamente em nós pensamentos e sentimentos.
E o mesmo acontece com o outro.
A conexão ou a desconexão para que uma comunicação aconteça de forma pacífica ou violenta se dá conforme o que fazemos a partir disso.
Se tomo consciência dos meus pensamentos e sentimentos diante do que o outro me fala ou de como se expressa, já dou um primeiro grande passo, pois trago para mim a responsabilidade dos meus pensamentos e sentimentos e isso, por si só, já é muito poderoso, pois não vou culpar o outro pela sua forma de comunicação e sim assumo o que eu penso e sinto diante disso.
Podemos chamar este primeiro passo de conexão consigo mesmo. E sendo bem práticos aqui, isso poupa muito tempo de nossas vidas.
Porém, podemos escolher ainda dar um segundo passo, que gostaria de subdividir em dois:
a) Entender o outro
b) Compreender o outro
Entender o outro passa por conseguir reconstituir junto com ele os fatos e dados observáveis, que se tivesse uma câmera filmando, todos seríamos capazes de reproduzir a mesma coisa.
E a partir dessa reconstituição, dessa observação, entender a dimensão dos pensamentos, da interpretação que eu e o outro fizemos disso e onde estão as diferenças.
Aqui já surge a grande primeira lacuna.
Como ainda não aprendemos a interagir e dominar nosso pensar, sentir e querer, muitas vezes eles se misturam e se torna impossível, se realmente não temos a câmera ou um gravador, reconstituir a situação, que dentro de cada um, fica como uma lacuna preenchida por seus próprios pensamentos e sentimentos e não por fatos.
Mas se tivermos abertura, podemos tentar reconstruir esta ponte, invés de levantar o muro e a barreira. E nessa hora quem nos ajuda?
Nosso companheiro sentir, nosso coração, que na verdade é uma outra forma de pensar, que pode nos abrir as portas da COMPREENSÃO.
Compreensão torna imprescindível busca de significado, que é a ação do nosso sentido da palavra.
Sentido da palavra?
Sim. O sentido da palavra nos permite interagir com o mundo e, se em uma comunicação não esclarecemos o que determinadas palavras chave significam para mim e para o outro... aí está a segunda grande lacuna.
E aqui repete-se a história... cada vez que uma lacuna surge, pensamentos e sentimentos a preenchem imediatamente tornando impossível a compreensão.
Como fazer então?
Entender e compreender a si e ao outro demanda tempo, abertura, vontade e coragem.
por Gleice Marote